terça-feira, agosto 19, 2008

Perspectivas da Guerra Civil.


Ando de volta dum livro interessante quanto perturbador.
Já, praticamente, toda a gente escreveu sobre ele: Mário Vargas Llosa, Rui Bebiano, João Barrento....e etc.
Mas, ainda assim, arrisco-me a postar o meu comentário de leitura deste livro com um titulo fortemente ambíguo
Hanz Magnus Enzensberger é alemão, é poeta, é velho e escreveu um livro impressivo sobre a devastadora guerra molecular, civil (só porque não é praticada por militares...) que, coincidindo com a implosão do império soviético -adquiriu expressões e libertou energias inauditas, devastadoras, praticadas por perdedores (qualquer tipo que possamos ou queiramos imaginar: apoiantes dum clube de futebol, tribo, grupo, etnia, militantes partidários, grupos com preferências sexuais...)e em qualquer território ou geografia física, cultural, religiosa e humana e sem precisarem de ideologias ou de justificações....
Retiro do livro uma passagem que vale um tratado:
"Outra tentativa de explicação, a mais deprimente de todas, tem a ver com o crescimento desmedido da população mundial. Já em 1950, Hannah Arendt tinha avançado a ideia de que a a facilidade com que os regimes totalitários haviam conseguido impor a sua lógica assassina estaria relacionada com este rápido crescimento e consequente perda de território e pátria por parte das massas que, em termos de categorias utilitárias, se tornam de facto «supérfluas». É como se o valor atribuído à vida humana, própria e alheia, decaísse à medida que aumenta o número de habitantes da Terra.
Não é fácil compreender esta ideia. No entanto, não são necessários dados estatísticos referentes à migração e aos refugiados, para ver como o planeta se tornou pequeno. É algo que está diante dos nossos olhos, todos os dias. A permanente visão dos desempregados, dos sem-abrigo, da decadência das megalópoles, dos navios e campos de refugiados a abarrotar vêm mostrar ao inconsciente que já somos demasiados, e a reacção cega a este facto é psicótica - começamos a matar indiscriminadamente os que nos rodeiam."
Veja-se a "guerra" travada na Geórgia, compagine-se as declarações dos responsáveis russos e georgianos e percebe-se o alcance deste pedaço dum livro que foi escrito em 1993 e, em minha opinião, não perdeu qualquer tipo de consistência de análise e de actualidade.
A ler: imperdível.
JA

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