sexta-feira, julho 25, 2008

Interesse nacional, comércio internacional e boa governança.

Por estes dias tem-se discutido bastante as iniciativas internacionais do eng.º Sócrates. Foi à Argélia, foi a Luanda, foi à Líbia e recebeu o Presidente eleito (digo: reeleito) da Venezuela. Portugal, faz muito tempo, tem interesses em Luanda e na Venezuela. Ultimamente tem-se aproximado de Kadhafi e da Líbia (aquando da cimeira com África durante a presidência portuguesa da UE).
Estas iniciativas internacionais do eng.º Sócrates visaram, sobretudo a realização de negócios: comprar matérias primas, essencialmente, hidrocarburos e vender o que temos (obras públicas estão no top das nossas contrapartidas).
Estivemos, sempre, a falar de economia.
Nunca se colocaram questões ideológicas.
Nas declarações conjuntas nunca, da parte portuguesa se verificou a mínima das manifestações de apoio aos "regimes" que cada uma destes senhores representa: Chavez, Eduardo dos Santos e Kadhafi.
Chavez veio á Europa. O primeiro país que visitou? Portugal. Depois foi demandar terras de Espanha, para se reunir com o Rei, que foi treinado por Franco e que foi "empossado" pelo velho ditador. Esse facto histórico tem diminuído D. Juan Carlos de Bourbon (parece que ainda é Rey do Algarve!)? Não me parece.
Mas quando D. Juan Carlos mandou calar Chavez (por que estaria a chamar fascista a D. Aznar...) todas as "boas e puras almas" de democratas convictos aplaudiram o Rey. Porquê? Por que tinha posta na linha o messiânico, o bolivariano, o populista (eleito várias vezes em eleições limpas na Venezuela) Hugo Chavez.
Agora, Hugo Chavez, foi a Espanha para receber as "desculpas" do Rey da Espanha...que já foi imperial!
Quando misturamos flores com (...) baralhamos os tópicos, os dossiers, os planos da discussão e tuti e quanti!
Quando não temos cão caçámos com gato. Quando não temos hidrocarburos, ou gaz natural, o que fazer? Investimos em Angola, no Brasil e na Venezuela...Porquê? por que fizemos questão e aqueles países nos autorizaram. O que estamos a fazer, agora? Estamos a diversificar as dependências. Estávamos a comprar, quase exclusivamente, gaz natural à Argélia. Vamos receber gaz natural da Venezuela e também da Líbia.
Estamos, e bem, a investir nas energias renováveis em Portugal e, a EDP, está a investir, nesta área, nos USA.
Importa fazer uma referência a uma questão central no nosso paradigma económico.
As actividades económicas não são TODAS iguais.
Por que é que o Estado tem de ter uma Banco Comercial, a Caixa geral de Depósitos? Porque é que o Estado tem de ter o "controlo" das empresas energéticas ( GALP e EDP)? Porque é que o Estado tem de ter o controlo das Águas de Portugal e das Estradas de Portugal?Porque é que o Estado tem ter o controlo da PT/Comunicações e da RTP? Porque é que o estado tem de ter o Controlo das Barragens?
Isto é todo uma debate, constantemente em cima da mesa. Os liberais, mesmo a sério, acham que há Estado a mais na economia . Os esquerdistas, sócio-marxistas, acreditam que poderia haver ainda mais Estado na Economia.
É o sempre "estimulante" debate esquerda direita.
Agora, há aspectos inquestionáveis: o interesses nacional, a defesa nacional, a soberania nacional! Há coisas que não se podem alienar para os privados. O exercício da ordem, da justiça, da emissão de moeda, da defesa nacional e, digo eu, a energia (qualquer que ela seja: fóssil, eólica, hídrica), as comunicações e etc.
A discussão à volta dos salamaleques que o eng.º Sócrates fez aos dirigentes de Angola, Venezuela e Líbia é, mesmo e só, para fugir ao debate das bem sucedidas (ou não...) iniciativas económicas e comerciais do actual Governo.
Que negócios fez José Sócrates em Luanda, na Líbia e na Venezuela? Teve de se vergar à "excelência" dos regimes, das práticas políticas vigentes?
Passa pela cabeça de alguém, hoje em dia, deixar de fazer negócios com os USA, porque o Bush é "semi-louco"? Passa pela cabeça de alguém, no seu perfeito juízo, dirigente de governo, ou empresário (se tiver oportunidade) deixar de fazer negócio com a China continental, a República Popular da China (porque o regime é feudal, é inumano e totalitário)?
Há por aí muita gente inteligente a gastar argumentos torcidos, disfuncionais e inadequados à problemática.
José Albergaria
PS - Algumas perturbações históricas.
Na década de sessenta do século XX, quando os mineiros asturianos, sob a ditadura de Franco faziam greve, a Polónia socialista, vendia carvão a Espanha.E isto no tempo em que os campos estavam bem definidos. Hoje, com uma única (por enquanto)potência imperial, os USA, as coisas estão bastante mais baralhadas.
Na história encontramos muitas perturbações, mesmo ao tempo de Hitler. Basta recordarmos, simplesmente, o pacto Germano-Soviético.
Misturar uma ética de pacotilha, com negócios de Estado...dá sempre mau resultado, em meu entendimento.

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