sábado, julho 26, 2008

Diplomacia e negócios

O meu amigo João Tunes e dono do blogue Água Lisa6 comentou esta problemática a partir dum poste que eu dediquei ao assunto.
Desse poste isolei a parte onde, porventura, se encerrará alguma discordância entre mim e o João Tunes:

"não está a contar o filme exibido e que todo o mundo viu. Em Angola, Sócrates fez um elogio rasgado à política de Dos Santos e ao MPLA, com Chavez, permitiu que o venezuelano se permitisse intimidade viscosa de amigos políticos e autorizou que Kadafi o apertasse contra o peito numa representação de intimidade politicamente obscena. E Sócrates não disse uma palavrinha (de Luís Amado nada a esperar nesse sentido, pois nunca tivemos um chefe de diplomacia tão dogmatizado no “nim”, cada vez mais lembrando o cinzentismo burocrático do velho e ido Gromiko) a reafirmar os princípios da democracia, das liberdades e dos direitos humanos. Tudo foi, princípios democráticos incluídos, o que o governo português embrulhou na tecnocracia dos negócios. E é isto, não outra coisa, o que está mal. A merecer um saudável protesto, não para fazer uma manifestação a exigir a demissão do governo mas para que não se repita (e em nosso nome)." Fim de citação.
Creio ser este o "ponto" em que, aparentemente, estaremos em desacordo.
Não é.
No fundamental, na substância da critica e dos reparos, estou quase de acordo.
O que eu, sobretudo, não concordo é com facto de muitos comentadores (terá vindo mesmo a senhora Presidente do PSD dizer que mais valia o primeiro-ministro ter ido visitar PME´S do que andar de roda dos senhores dos petróleos!)terem passado ao lado dos alvos das visitas do engº José Sócrates, não terem relatado os resultados "objectivos" das mesmas e terem "hipervalorizado" declarações de circunstância e de conveniência, e as manifestações de "intimidade viscosa" e "intimidade politicamente obscena".
Claro que essas "declarações" e essas "intimidades" me perturbam e desconfortam, mas...
Quanto a Zapatero e à senhora Merkl o problema tem a ver com a importância de cada um dos seus países, com o valor de cada uma destas realidades sociais, económicas, demográficas, tecnológicas - que nos deixam a milhas da Espanha e da Alemanha.
Nós só conseguimos altear a voz quando temos condições para tal. Por exemplo quando tivemos a Presidência da UE.
E, mesmo assim, fazemo-lo, sempre, com discrição e a propósito, como foi, também, o caso da senhora Merkl antes de se deslocar à latino América...e durante a estadia.
Desde a crise do Rey de Espanha do "por que no te callas, hombre", quem tem intermediado nas relações NECESSÁRIAS de Zapatero com Chavez...foi, nem mais nem menos, o "nosso" José Sócrates.
A diplomacia é, nas relações externas dos Estados, o que de mais sinuoso, viscoso, inumano e surreal existe...
Veja-se o dossier Tibete; o dossier Birmânia;o dossier Coreia do Norte; veja-se o infindável dossier "Palestina"; veja-se o dossier Guantanamo; veja-se o dossier direitos humanos em Cuba;veja-se as FARC da Colômbia e etc; e etc; e etc.
Não estou a querer fugir a nenhuma discussão, não estou a querer contornar nenhuma dificuldade, não estou a querer "defender", em nome da sacrossanta diplomacia económica, ou realpolitik, farsantes como Eduardo dos Santos, Chavez ou Kadafhi.
O que eu quis dizer e em jeito de conclusão:
1/ Foram deveras importantes, para o interesse nacional, as visitas de José Sócrates a Angola, à Argélia,à Venezuela (e a visita de Chavez a Portugal)e à Líbia;
2/As declarações verbais, os salamaleques, os cumprimentos e os abraços efectuados por Sócrates (não sendo do meu particular apreço e entusiasmo)foram-no de circunstância e conveniência;
3/A diplomacia tem instrumentos hierarquizados (as notas; as recomendações; as declarações conjuntas...); não me apercebi que tivessem havido "Declarações Conjuntas" e, no caso de as terem elaborado - não me apercebi de nenhum apoio "explicito" do Governo português àqueles regimes "em concreto".
Foi isto que eu quis afirmar.
José Albergaria
PS - Depois...depois, ele há o "estilo" José Sócrates que não agrada a muita gente.
Eu, já o afirmei, convivo melhor com os pré-socráticos, mas tenho de reconhecer que este nosso primeiro-ministro tem obtido alguns sucessos e, em particular, nas relações internacionais.
Objectivamente.

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