quinta-feira, junho 05, 2008

"O diabo quanto está prestes a morrer - vira sacristão!"

Ora aqui está uma bela duma frase! Mas, mais do que isso, uma muito interessante metáfora! Onde a comprei? Há pouco tempo, na mercearia dum velho e sagaz sindicalista de Castanheira de Pera.
Trocávamos umas ideias sobre a actualidade política, governativa, oposicionista, situacionista (como gosta de firmar o João Tunes) e, ainda, em torno dalgumas personalidades com percursos erráticos...
Hoje, nos políticos, nos líderes religiosos, mesmo até nos artistas e intelectuais, cada vez valorizo mais o porte humanista, a ética dos valores e a moral da responsabilidade.
Incomoda-me pouco as doutrinas, menos ainda as ideologias (salvo aquelas que atentam contra o Homem e contra a Humanidade, como é óbvio) e ainda menos o posicionamento geométrico: esquerda, centro e direita!
Houve tempos em que me pesavam os preconceitos: o gajo é de direita? não presta!
Hoje escrutino mais e com mor rigor os da minha geografia (esquerda) do que os que andam por outras paragens! Complexos? Provavelmente.
Mas andámos a vender e a dar, a rodo, a nossa superioridade moral e, quando nos demos conta, estávamos atolados, até ao pescoço, no maior embuste do século XX! Houve quem percebesse isso mais cedo que outros. É verdade.
Mas, em meu entender, ninguém fez ainda, com serenidade, com agudeza, com rigor e, sobretudo, com isenção e veracidade (evito a palavra verdade, por ser um absoluto e, acho eu, intangivel!) a análise da responsabilidade ética e moral dos que, como eu, ladainhámos pelo marxismo e pelo comunismo. E os que andaram (e alguns ainda andam...) pelo trotsquismo e pelo maoismo?...esses, nem falar se pode por que, na maioria dos casos, se acolheram no regaço apaziguador do PS e ou do PPD/PSD e...prontos: limpos e álvares como aquela roupa que migrava de Lisboa p'ra Caneças. Lembram-se?
Isto tudo vem a propósito da Festa promovida pelo BE para o Teatro da Trindade e realizada no passado dia 3 de Junho.
A Joana Lopes (acrescente-se-lhe os comentários que por lá foram postados...) hoje, disse, praticamente, tudo que havia para dizer sobre este tópico (mesmo os seus sentimentos que perpassam pelo texto).
As posições recentes de Manuel Alegre, de Mário Soares lembram-me, perdoe-se-me a ousadia e algum despudor, a metáfora que utilizo no titulo deste post.
Mas, curiosamente, o VELHO CDS, a pretexto da Moção de censura ao Governo do eng.º Sócrates, o seu argumentário "cristão", preocupados com o desemprego, as desigualdades, o custo de vida e dos combústiveis, a pobreza e tuti e quanti, também o deslocam p'ra debaixo desta metáfora.
De repente, "toda" a gente, descobriu o filão da pobreza, das desigualdades sociais, das iniquidades na distribuição da pouca riqueza que, ainda assim, vamos criando, das dificuldades importadas de fora (preço do crude, entrada no comércio mundial da China, especulações financeiras e créditos mal parados nos EUA, guerra no Iraque...) e....o vencedor é: ninguém! Porquê? Porque o que os move são as sondagens, que dão o BE e o PC a subirem. Lembram-se que a MFL quando da disputa para Presidente do PSD dizia, mais ou menos, isto: "É preciso credibilizar o PSD, criticando a ausência de políticas sociais proactivas do governo de modo a travar a subida eleitoral da esquerda, do BE e do PC".
Nesta situação, como se comporta o PCP? Como sempre. Sobre esta matéria não digo mais nada, por que o João Tunes ("Como será o traseiro da Anabela da esquerda triste") e o Rui Bebiano ("A Festa como delito") disseram o que havia p'ra dizer.
Entretanto, Ia este meu post já longo e vem o João Tunes e zás: "Ponham a mesa e sirvam-se!"
Diz o João Tunes - que anda toda a gente irritada com o Manuel Alegre e, cada vez mais. Sugere mesmo (se bem entendi...) que se possa, em torno da irritação em crescendo e em torno do poeta, criar uma plataforma de entendimento entre as várias esquerdas...percebi bem? Não tenho a certeza.
Vai daí fui ao Dicionário da Lingua Portuguesa editado pela Academia das Ciências e, no brevete irritação encontro o seguinte:1.Estado de pessoa perturbada, enervada por algo que a contraria ou incomoda e que tende a manifestar-se de forma agressiva;estado de irritado. Agastamento. O discurso demagógico e repetitivo do orador causou-lhe tal irritação que por pouco não lhe gritou que se calasse.(Fernanda de Castro, Raiz, p. 26).
Ora aqui está uma "trouvaille": a IRRITAÇÃO como Plataforma, doutrina, ideologia, programa, logotipo e, mesmo até, campanha eleitoral. Que líder para dirigir este Partido (sim - porque é preciso um partido!)? Claro, o irascível, o colérico, o exaltado vate, o aristocrata, o sereníssimo príncipe: Manuel Alegre! "O sabão irrita a vista. O fumo irrita a garganta. A pele irrita-se com detergentes." O Manuel Alegre consegue irritar TODA a esquerda portuguesa! É obra!

JA


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