terça-feira, abril 22, 2008

"Os inimigos da democracia"

António Barreto, sociólogo, académico, investigador, fotógrafo, guionista de TV, politíco, publicista, andou mal, mesmo muito mal, na história da carta, suposta e falsa, atribuida ao Vice Almirante Rosa Coutinho e inserta num livro de memórias sobre os anos de brasa em Angola, 75/77 no pós independência nacional daquele país africano.

Aderente da blogoesfera, AB, partilha um mesmo espaço com vários nomes sonantes do Jornalismo e/ou da Opinião publicada: o SORUMBÁTICO.

Tem como colegas de blog: João Paulo Guerra, Baptista Bastos, Joaquim Letria, Nuno Brederode dos Santos, Carlos Pinto Coelho e... Ferreira Fernandes (que publicou naquele Blog as duas crónicas, editadas no DN e que dedicou ao texto de AB, dado à estampa no Público de 13 de Abril.).

António Barreto não tugiu nem mugiu: de que estará à espera?!...

Contudo, e é disto que aqui quero tratar, no passado dia 20 de Abril escreveu um notável texto sobre a crise no PPD/PSD. Aqui deixo um excerto daquela análise.

Disse Barreto:

"Menezes derrotou-se a si próprio como quase ninguém conseguiu derrotar outrem . Sem apelo, sem remédio, sem misericórdia. E sobretudo sem saber o que estava a fazer. Mostrou que também, nos partidos, não apenas nos governos e nos parlamentos, os seus dirigentes caem por si, muitas vezes nem precisam que alguém os derrube. Não mostrou competência. Fez-se de vítima. Acusou os seus correligionários de perseguição e cinismo, coisas que nunca lhe faltaram quando era oposição dentro do partido. Deixou-se influenciar por aqueles assessores, vampiros por procuração, que pedem aos seus príncipes sangue e guerra, mas que são eles próprios incapazes de um gesto de carácter. Usou a demagogia sem contenção. Inventou e cultivou inimigos, pois julgou que era essa a força de um político. Não mostrou ter qualidade de líder ou de homem de estado capaz de destroçar aquela que é a maior fonte de conspiração e intriga do país, o PSD. Fez como os maus estudantes: espalhou-se ao comprido. E como eles reagiu: acusou os outros."

E, contudente, afirma, mais adiante, AB:

"Se excluirmos as tentativas de alguns militares e do PCP, nos anos da revolução de 1974 e 1975, quem ameaçou a democracia foram sempre os democratas. Por incurável demagogia. Por má gestão. Por incapacidade de decisão. Por adiamento de reformas e iniciativas. Por sobreposição de interesses partidários e pessoais aos problemas do país. Por lutas intestinas inúteis e perniciosas. Por demedida ambição de algumas pessoas. Por um grosseiro partidarismo. Por uma irreprimível vaidade de alguns dirigentes. Pela complacência perante a corrupção, a fraude, a irregularidade e o expediente. A derrota de Menezes, em si, é um facto menor da vida portuguesa. (...) Se quiserem encontrar os verdadeiros inimigos da democracia, não é preciso ir procurar muito longe: basta começar pelos partidos e pelos políticos democráticos."

Que irrepreensível análise sobre a crise provocada pela demissão de Filipe Menezes da presidência do PPD/PSD!

Mas esta preocupação de AB - não poderia, ele mesmo, aplicá-la a si próprio?...

Não se poderá, mutantis mutandi, ajustar esta análise ao silêncio confrangedor ao qual AB se remeteu, ainda se remete, quanto à crónica de 13 de Abril?...

Creio bem que sim.

JA

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