sábado, abril 12, 2008

"Entre as brumas da memória"


Dum campo de nenúfares, d'entre as brumas da história, do passado,, emergem, poderosas, impressivas, as memórias duma lutadora, católica, que, nessa trincheira travou as lutas que entendeu dever cumprir, nas circunstâncias e no tempo que lhe foram dados viver.

Amigo comum chamou-me a atenção para o percurso civico da Joana Lopes, para o seu Blog e para o seu livro.

No Blog, tenho vindo a navegar faz tempo.

Do livro, que comprei ontem (encontrei-o na FNAC de Alfragide) já quase o devorei.

É um testemunho rico, valioso e que, para a historiografia do século XX, do Salazarismo, particularmente da década de 60 até ao 25 de Abril de 1974, deixa-nos vislumbrar que houve mais resistência ao fascismo para além da do PCP (que, de resto, como a própria autora o faz, TODA a gente reconhece...).

É, para mim, particularmente, interessante a deriva de muitos intelectuais portugueses, católicos militantes, empenhados, comprometidos com a Igreja Católica, que acreditaram, num primeiro momento, que podiam lutar contra o fascismo do próprio interior da Igreja Católica e das suas organizações de leigos: e fizeram-no com argúcia, inteligência e rigor taticisa.

Depois, o afastamento e a procura incessante duma solução "mistica", a partir de múltiplos exemplos de vida, em que não faltou mesmo a do padre guerrelheiro Camilo Torrres (nascido em Bogotá em 3/2/1929 e morto pelo exército colombiano em Santander, a 15/2/1996).

Ainda vou a meio do livro, mas já recordei bastante e aprendi outro tanto.

A "mitografia" dos comunistas, do "Partido", como única força organizada na resistência ao fascismo começa a ruir. Não vem mal, nem ao mundo, nem aos comunistas, que tal aconteça: é a VERDADE acontecimental no seu melhor que começa a esburacar os paredões da mistificação.

Ainda bem que a Joana Lopes conseguiu "roubar" tempo ao seu, dela, tempo, para nos brindar com o seu "testemunho". Que outros, até doutras áreas "ideologicas" o possam fazer.

Estou a gostar muito de a ler. Quando acabar voltarei ele, aqui neste Blog.

Agora, outra questão que me trouxe aqui, hoje, no 1.º Aniversário do Blog da Joana Lopes.

Quando o Professor Emidio Guerreio festejou os seus 100 anos, fizeram-lhe um homenagem, na sua Guimarães natal.

Quando o Edmudo Pedro (o mais jovem comunista a malhar no Campo de Concentração do Tarrafal) festejou os seus oitenta anos, fizeram-lhe uma homenagem na sua Lisboa de adopção.

Quando o antifascista e luareiro Herminio da Palma Inácio, fez oitenta décadas de vida, outra homenagem nacional estralejou.

Quando o médico, Fernando Valle, comemorou o seu centenário, outra homenagem nacional arrebentou.

E já nem estou a falar das homenagens e honrarias que o Estado e a Chancelaria das Comendas e Ordens lhes atribuiu, a cada um deles, pelas causas da Liberdade que abraçaram!

O que aqui quero deixar sugerido é:

1- Porque não aproveitar-se a efeméride próxima, de vida, da cidadã Joana Lopes e organizar-se-lhe uma homenagem, pública e, porque não?, nacional;

2- Nesta homenagem, simbolicamente, seriam honrados as élites católicas que, nos anos de brasa da década de 60 do século XX deram o corpo ao manifesto na luta contrra o fascismo lusitano.

E mais não digo.

JA

PS - Ainda não fui à bruxa nem, por pudor, lá irei...

1 comentário:

Joana Lopes disse...

José,
Muitísimo obrigada por este texto, por estar a ler o livro e por toda a atenção.
Mas deixe-se de fantasias de festejos e, muito menos, de «homenagens»?!...

Festa é andarmos por aqui, fazendo o que podemos paa vivermos melhor e nos divertirmos um pouco!
Um abraço